HÁ quem não tenha nascido para casar. Não é defeito, é feitio. O casamento não é para todos, embora reconheça que foi assim que a minha geração foi educada. Deitaram-nos um veneno na sopa quando éramos pequenos que nos condicionou ao modelo da família feliz, marido e mulher, pelo menos dois filhos, uma casa desafogada e férias na mesma praia todos os Verões com o mesmo grupo de amigos, carrinhas e jeeps, crianças educadas em colégios particulares com actividades extracurriculares que incluem natação, rugby ou equitação, todo um lifestyle programado ao milímetro que nos fizesse sentir adultos, responsáveis e ‘arrumados’ na vida.
Mas esse veneno acaba muitas vezes por se diluir. E em alguns casos ainda bem.
AINDA hoje, apesar da mudança dos tempos e da evolução dos costumes, oiço amigas minhas falarem de outras mulheres que, coitadas, já se separaram há mais de três anos e ainda não reconstruíram a vida, como se reconstruir a vida tivesse obrigatoriamente de passar por voltar a casar, voltar a procriar, voltar às carrinhas e aos jeeps, restaurando o antigo modelo da mesma vidinha de sempre. Para quem gosta da vidinha e se sente feliz a chapinhar nela, tudo isto até pode fazer sentido. Mas nem todos fomos feitos para a vidinha; há quem sufoque com a rotina, quem não aguente a monogamia, quem tenha vontade de fugir da sua realidade pelo menos duas vezes por semana, quem assuma a vidinha para a família e depois tenha outra, fora do circuito oficial. E há quem simplesmente não pactue com o sistema tacitamente instaurando da moral e dos bons costumes e nunca case, ou, se já passou pela experiência e esta não resultou, nunca mais volte a casar.
O CASAMENTO em Portugal ainda é uma instituição sagrada, um dos poucos princípios que a Igreja conseguiu perpetuar. E está de tal maneira enraizado enquanto princípio social que poucos se lembram de parar para pensar que há pessoas que nasceram para o matrimónio e outras que nasceram para o celibato. Casar não é obrigatório nem consta que uma pessoa seja multada pelo facto de não o fazer. Até porque hoje já não se pergunta se fulano é casado, pergunta-se se está casado. O ser perdeu força, dando lugar à circunstância. Conheço muitas pessoas que estão casadas e muito poucas que o são. Ser casado é outra coisa. É viver a dois e em função dos dois – e depois dos três ou quatro ou cinco quando se tem filhos – e nem sequer conceber a existência sob outro modelo.
Quem está casado, pode estar bem ou estar mal. A grande diferença é que antigamente as mulheres que estavam mal se aguentavam como podiam porque isso era menos difícil do que sobreviver pelos próprios meios, ter uma carreira profissional respeitada e não sofrer a pressão social. Hoje não é assim: se as mulheres se sentem mal casadas batem com a porta porque sabem que há mais vida.
O CASAMENTO é uma dura e infinita aprendizagem. Requer paciência, amor, abnegação e outra vez paciência. É uma espécie de missão e nem todos nascemos com tal espírito. Há solteiros inveterados, tal como há casados inveterados; são aqueles que, depois de aguentar um casamento pouco feliz durante mais de 10 anos, se casam rapidamente com a primeira oportunidade que se lhes desenha no horizonte. De facto, se olharmos à nossa volta de forma objectiva, apercebemo-nos de que nem todos somos casáveis e que há sem dúvida pessoas muito mais casáveis do que outras. É tudo uma questão de lifestyle.
Autora: Margarida Rebelo Pinto
1 comentários maldosos:
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